Sobre tendências, parte 2
Há mais de um ano fiz um post bem mais ou menos sobre essa mania que temos de ficar tentando adivinhar o futuro, quase sempre nos esquecendo de premissas básicas. Eu mesmo, contraditoriamente, no final do ano passado, fiz uma lista de previsões para este ano, pura brincadeira.
Não sou contra manifestações pessoais à la Mãe Dinah, é divertido ler o que você achava que ia acontecer no futuro. O grande problema, ponto central desse post, é levar esses chutes, muitas vezes dados com interesses duvidosos, para o público. Isso é especialmente irrelevante na área de tecnologia, que é, cada vez mais, imprevisível. Há 5 anos atrás, quase não existia serviços de computação nas nuvens. Hoje, ao contrário do que grupos de mídia “especializados” publicam, cloud computing não é nenhuma tendência, é realidade. Há 5 anos atrás, o iPhone estava pra ser lançado. Hoje, o iPad é tido como o gadget que vai acabar com PCs, com o Desktop, com a Microsoft, a Dell e a HP. A tal Web 2.0, que engatinhava há 5 anos atrás, hoje vai aniquilar, a curto prazo, os Sistemas Operacionais.
É engraçado, tudo que não existia há 5 anos atrás e sequer foi previso pelos gurus, vai, como num passe de mágica, acabar com tudo que está aí há mais de 20 anos.
O ponto não é ser conservador ou retrógrado. É apenas aprender com os erros do passado. Os combustíveis de todas as “tendências” atuais estavam fora do radar de todos os gurus, por que agora as previsões estariam certas? Por que ficar lendo esse vapor todo vai te ajudar?
Para agravar, uma parte da mídia brasileira, presta um verdadeiro desserviço à população local. Pegam o que sai nos EUA e traduz para o Brasil. Como se nossa realidade fosse a mesma, os problemas fossem os mesmos, as oportunidades fossem as mesmas.
Falando de tecnologia, lá nos EUA, o iPad é muito mais barato, a população tem acesso à Internet de alta velocidade a preços razoáveis. Aqui no Brasil, segundo a pesquisa TIC Domicílios 2010, 47% da população brasileira nunca acessou a Internet, já excluída a parcela da população que vive em áreas rurais. Aqui, 97,78% dos internautas, não sabem que a Microsoft, a AOL, ou qualquer outro provedor jamais irá pagar alguns centavos de dólar a cada e-mail enviado. Aqui, as pessoas precisam descobrir o poder (para o bem) das redes sociais.
Ah! E o que que tem isso demais? Acontece que somos, historicamente, carentes de senso crítico. Muitos preferem aceitar, sem nenhum filtro de sensatez, o que é espalhado por aí. Uma leva de cabeças-de-bagre continuarão sendo mal informados, atrasando, ainda mais, nosso desenvolvimento.
Vamos parar pra pensar minha gente. Vamos discutir melhor as nossas questões.